Desde o final de dezembro de 2019, o mundo todo está em alerta, enfrentando um novo inimigo comum – o COVID-19. Não seria ótimo ter a ajuda de nossos cães nesse combate? Bem uma das hipóteses é que o coronavírus do cão, que é inofensivo pra nós, pode gerar uma espécie de imunidade parcial cruzada.

Sabemos que os cães são vacinados para o Coronavírus canino entérico e respiratório, já que consta na carteira de vacinação deles, mas será que o vírus canino pode interagir com o COVID-19?
Um estudo publicado em 17 de março desse ano na Science Direct diz o seguinte:
“Com base na alta homologia entre os epítopos da proteína Spike dos coronavírus relacionados à taxonomia, hipotetizamos que o contato passado com cães infectados protege os humanos contra o SARS-CoV-2 circulante.”
A hipótese é que como os dois vírus, o coronavírus atual e o respiratório canino tem aspectos parecidos, mas o do cão que é inofensivo pra gente pode gerar uma espécie de imunidade parcial.
O que explicaria sintomas mais brandos ou até os assintomáticos. O estudo deixa claro que mais estudos são necessários, mas é um pensamento animador.
Vamos detalhar o artigo mais a frente para entender melhor a idéia. Começando pela base.
Conhecendo o Inimigo – Um pouco de biologia
Os Coronavirus são vírus com Genoma de RNA de cadeia simples de aproximadamente 30 kilobases que são comumente encontrados em várias animais como camelos, morcegos, ratos, cães, gatos e humanos por exemplo, entre vários outros.
Desde seu aparecimento no início de 2020 vários estudos foram feitos para identificar a sequência do vírus para que se descobrisse qual a sua origem e delinear o tropismo celular e o hospedeiro.
Tudo isso na tentativa de reduzir a difusão do vírus (espalhamento do vírus)
Proteína Spike

Descobriu-se, por exemplo, que o COVID-19 é muito parecido com o coronavírus encontrado em animais de vida selvagem como morcegos, pangolins e Civeta de Palma mascaradas.
Na sua constituição, o repertório de proteínas do coronavírus consiste em quatro proteínas estruturais principais aproximadamente 16 proteínas não estruturais principais.
Então, entre as quatro proteínas estruturais a proteína spike conhecida como proteína S está envolvida no tropismo do hospedeiro por meio do reconhecimento e ligação ao receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2 ou ACE2¹) exposto na camada externa da membrana da célula Hospedeira.
Foi feito então um alinhamento da sequência de aminoácidos de diferentes espécies de animais domésticos e humanos.
A relação destacou alta similaridade de sequência de proteínas entre as espécies testadas sugerindo uma interação potencial das partículas virais.
Veja abaixo a relação
Seria o Cão uma Proteção para o Covid-19: A Hipótese de Transmissão Inter espécies

De acordo com a hipótese de transmissão inter espécies dos coronavírus Beta foi feita uma análise de homologia da sequência de aminoácidos da proteína Spike do SARS2-COV-2 contra coronaviroses taxonomicamente relacionados com tropismo por outras espécies animais e pontuada uma sequência para comparação dessas proteínas.
Ou seja, pegaram a sequência da proteína S do COVID-19 e compararam com a de Coronavírus de outras espécies e criaram uma tabela de comparação de semelhança em percentagem.
Mas um interesse particular foi dedicado ao coronavírus respiratório canino, o coronavírus bovino e o coronavírus entérico humano que mostraram homologia à proteína spike SARS CoV-2 de 36,93%, 38,42% e 37,68%, respectivamente.
Outro ponto destacado foi a alta semelhança percentual de 4 sequências de epítopos dos 6 identificados entre o coronavírus respiratório canino e o SARS-COV-2 circulante./Nessa pesquisa coronavirus felino mostrou homologia 32,26%.
O que é Epítopo
Um epítopo ou determinante antigênico é a menor porção de um antígeno com potencial para gerar uma resposta imune.
É a área do antígeno que se liga aos receptores da célula e aos anticorpos. Os epítopos podem ser iguais ou diferentes e o número de epítopos em uma molécula está diretamente relacionado ao seu tamanho. Dessa forma, numa molécula grande muitos epítopos diferentes podem ser reconhecidos pelo sistema imunológico.
Porém alguns são mais imunogênicos que outros dessa forma o sistema imunológico pode responder alguns epítopos e o restante da molécula pode ser ignorada.
Essa semelhanças abrem novos caminhos para a compreensão dos mecanismos biológicos da infecção viral.
Cão, melhor amigo do homem até no COVID-19?
Basicamente, por convivermos bem de perto com nossos cães acabamos tendo contato com os vírus que eles tem, incluindo o coronavírus respiratório canino.
O vírus canino não nos infecta, não nos deixando doentes, mas pode ser reconhecido pelo nosso sistema imunológico que cria um reconhecimento do vírus. A memória parcial/basal.
Como o COVID-19 e o coronavírus respiratório canino tem semelhanças estruturais quando ele entra no organismo ele entende que já viu aquele “inimigo”. Ele já tem pelo menos o inicio do plano de ação.
Então, isso poderia explicar os sintomas leves vistos em pacientes fora da Província de Hubei, sem comorbidades anteriores.
Já com relação aos casos mais graves que aconteceram dentro e fora de Hubei o estudo propõe que podem ter relação com o Aprimoramento Dependente de Anticorpos (ADE).
Aprimoramento Dependente de Anticorpos para Covid-19

O Aprimoramento Dependente de Anticorpos é quando a pessoa se infecta com o mesmo vírus mais de uma vez em uma estreita janela de tempo.
E o que pode acontecer é que a nova infecção pode começar no período em que os anticorpos gerados pela infecção anterior caiam para um intervalo muito baixo levando aos efeitos do ADE.
Se os anticorpos produzidos não estiverem na concentração ideal para combater o vírus ou não se ligarem direito ao vírus eles podem se unir a esse vírus e agravar a doença.
Dessa forma, esse vírus ligado aos anticorpos acaba ganhando uma passagem pela “porta dos fundos” através dos receptores de anticorpos em macrófagos e outros membros da equipe de limpeza celular.
Ou seja, ao invés de ajudar a eliminar o vírus esses anticorpos viram uma espécie de Cavalo de Tróia. Desse modo, acabam ajudando a infectar outras células ao invés de proteger, o que deixa o quadro da doença mais agressivo. Muito doido isso não!
Concluindo
Em resumo, o contato direto com os cães ajudar nos ajudar com uma imunidade parcial/basal que protege os contra o COVID-19 em circulação é sim possível. Aliás, essa seria mais uma maneira que o convívio com cães estaria nos ajudando.
Claro que os animais tem papel fundamental em nossas vidas. Porém o tema precisa de mais estudos para que possamos entender cada vez melhor como acontece a interação dos vírus dos cães e os nossos.
Sem dúvida o conhecimento é a melhor maneira de preservar a saúde deles e a nossa! Para quem quiser ler o trabalho na íntegra, ele está disponível no link logo abaixo.
Mas e você, qual a sua opinião sobre o tema?
Tem alguma sugestão de tema ou curiosidade que gostaria de ver abordada aqui? Manda pra gente
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Fonte: Molecular basis of COVID-19 relationships in different species: a one health perspective – Science Direct
¹ A ECA e a ECA2 são responsáveis pela vasoconstrição aumento da pressão e vasodilatação e redução da pressão respectivamente, na regulação da pressão arterial dentro do Sistema Renina-Angiotensina- Aldosterona
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